Orientações sobre Monkeypox


19/09/2022 18h23 - Atualizado em 20/09/2022 às 13h01

Amanda Lys dos Santos Silva e Fernanda Cristina de Albuquerque Maranhão

Comissão Interna da Biossegurança do ICBS-UFAL

Revisado por: Profa Dra Alessandra Abel Borges (ICBS-UFAL)

 

De acordo com o mais recente boletim epidemiológico emitido pela Secretaria de Estado da Saúde (SESAU) de Alagoas, até o dia 12/09/22, foram notificados 236 casos suspeitos de monkeypox (“varíola dos macacos”), dos quais, 04 (1,7%) casos foram confirmados, 02 casos prováveis (0,8%), 05 casos com perda de seguimento (2,1%), 130 (55,1%) foram descartados e 92 (39 %) encontram-se em investigação. Além disso, verifica-se que o município de Maceió é o que possui o maior quantitativo de casos (125; 53,09%) seguido de Arapiraca (21; 8,9%) e Delmiro Gouveia com (12; 5,1 %) respectivamente. Diante desse quadro, a Comissão Interna de Biossegurança do ICBS (CIB-ICBS), que foi criada especificamente para tratar do monitoramento da COVID-19 na nossa Unidade Acadêmica (UA), produziu o material informativo a seguir sobre monkeypox para auxiliar todos os servidores desta UA.

 

  • Agente etiológico

Monkeypox é uma doença zoonótica causada por vírus da família Poxviridae, gênero Orthopoxvirus e espécie Monkeypox virus (MPXV). Esta família possui como material genético uma dupla fita linear de DNA, codificando em seu genoma as proteínas necessárias para replicação, transcrição, montagem e liberação viral. Possuem capsídeo de simetria complexa (em formato de altere) e um envelope lipoproteico externo, apresentam formato ovalado, com medidas entre 200 a 400 nm.

  • Transmissão e início dos sintomas

Esta doença é transmitida pelo contato direto com secreções das lesões cutâneas (na fase de pústulas) de uma pessoa infectada, podendo se dar por meio de um abraço, beijo, massagens e relações sexuais. É importante ressaltar que a transmissão também pode ocorrer por fômites, ou seja, contato com objetos, tecidos (roupas, roupas de cama ou toalhas, por exemplo) e superfícies que foram utilizadas pelo infectado e que teve contato com suas secreções. Ainda pode ocorrer, embora que menos frequente, a transmissão por contato próximo com secreções respiratórias (gotículas grandes ou perdigotos), se o afetado apresentar lesões orais ou no trato respiratório superior.

Salienta-se que embora a OMS (Organização Mundial da Saúde) não considere a monkeypox como uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), ela tem sido considerada por especialistas como ‘infecção sexualmente associada’ porque é transmitida através de um contato muito próximo, incluindo sexo, e parece se espalhar durante a atividade sexual. Em estudo de casos de 16 países onde houve surto recente, suspeita-se que a transmissão sexual tenha ocorrido em mais do que 90% dos casos, sendo que indivíduo de qualquer gênero ou sexualidade pode ser afetado.

O período de incubação pode levar de 2 a 15 dias ou até 4 semanas, seguido de sintomas que se assemelham a uma gripe (como cefaleia e dor de garganta), havendo febre, sudorese, mialgia e fadiga, e após cerca de 1 a 3 dias de febre há o início da fase com lesões cutâneas (rash). Pode haver letargia ou exaustão, e proctite ou dor anorretal podem também estar presentes. A presença de linfoadenopatia (aumento palpável de linfonodos/gânglios cervicais e/ou sub-mandibulares ou em regiões como axila e virilha) é um fator diferencial entre monkeypox e a varíola humana que pode ser observado em muitos pacientes.

Ressaltamos que ainda há dúvidas na literatura especializada se o contágio poderia ser anterior à fase de lesões pustulosas, e muitas pesquisas seguem sendo realizadas para esclarecer detalhes da patogênese viral e do curso dessa doença.

  • Lesões cutâneas características

As lesões cutâneas do MPXV (Figura 1) assemelham-se às erupções da varíola e variam em coloração no decorrer da doença, podendo ainda ter aspecto parecido a outras doenças infecciosas mais comuns, como as erupções observadas na sífilis (fase secundária), infecção por herpes simplex ou pelo vírus varicela-zoster, habitualmente afetando o rosto e as extremidades. As lesões passam por fases como máculas, pápulas, vesículas (bolhas) e pústulas, e posteriormente, apresentam-se como crostas, sendo frequentemente descritas como dolorosas até a fase de cicatrização, quando começam a apresentar prurido.

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Figura 1. As características da pele e tecidos moles de pessoas infectadas com MPXV: (A e D) lesões vesiculares ou pustulosas; (B e C) lesões maculares envolvendo as palmas das mãos e plantas dos pés; (D e E) lesão subungueal; (F e G) pápulas mais sutis e vesículas menores; (H) e abscesso profundo (seta, imagem obtida durante drenagem guiada por ultrassom). Fonte: Adlher et al., 2022.

No atual cenário tem sido relatado casos que apresentam sinais e sintomas variados, como por exemplo, as erupções podem começar nas áreas genital, perianal ou perioral e nem sempre se disseminam para outras partes do corpo; o número de lesões em uma pessoa pode variar de poucas a milhares, e cerca de 30% das pessoas afetadas não apresentaram rash cutâneo, enquanto aproximadamente 11% não apresentam nenhuma erupção cutânea; segundo a OMS, isso pode dificultar uma suspeita clínica da monkeypox no início da doença e deve-se levar em consideração se a pessoa avaliada teve contato próximo com alguém que positivou para essa condição ou que está sob suspeita.

  • Tratamento e vacina

Ainda não há protocolo para tratamento específico, sendo realizado um manejo clínico dos sintomas em cada paciente afetado, e a maioria apresenta quadros leves. Todos os casos confirmados requerem cuidado e observação das lesões para o devido acompanhamento, focando também na minimização dos riscos de complicações, surgimento de sequelas e disseminação do agente etiológico. O maior risco de agravamento acontece para pessoas que têm algum fator que favorece a imunossupressão, como conviver com HIV/aids, diagnósticos de leucemia, linfoma e metástase, além de pessoas transplantadas ou com doenças autoimunes, gestantes, lactantes e crianças com menos de 8 anos de idade.

A Anvisa aprovou em agosto de 2022 a liberação do medicamento Tecovirimat para ser usado no tratamento da monkeypox e de uma vacina da Jynneos/Imvanex, baseando-se em outras agências regulamentadoras como a FDA (EUA) que já liberaram o uso desses produtos para o controle da monkeypox. No Brasil já está em curso pesquisa no CTVacinas da UFMG para a produção de vacina contra a monkeypox e que deve ser produzida pela Bio-Manguinhos.

 

Orientações para a comunidade do ICBS-UFAL sobre monkeypox:

 

  • Uso de máscaras e higienização frequente das mãos, principalmente em ambientes com indivíduos que passaram a ter a suspeita da contaminação com o vírus;
  • Uso de preservativo (contraceptivo de barreira) em todos os tipos de relações sexuais;
  • Atenção a casos potencialmente suspeitos/prováveis para indicação de protocolo de avaliação e de isolamento:
  • Diante de algum caso suspeito (com sintomas como febre súbita, gânglio palpável ou erupções cutâneas, mesmo que isoladas): indicar busca de assistência médica imediata para que se inicie os protocolos de diagnóstico clínico e laboratorial da monkeypox, visando ainda a diferenciação de outras doenças; imediato afastamento das atividades presenciais.
  • Um caso provável é aquele que tem as características de caso suspeito (indicadas acima) e um ou mais critérios como: (1) histórico de viagem à país endêmico para monkeypox ou com casos confirmados 21 dias antes do início dos sintomas e (2) ter vínculo epidemiológico, que se caracteriza pela exposição próxima, direta ou prolongada e também pelo contato com roupas e materiais contaminados com secreções de caso provável ou confirmado.
  • Pessoas consideradas como casos suspeitos ou prováveis no ICBS devem manter-se em isolamento residencial até o fim da investigação clínica que vai confirmar ou descartar a monkeypox.
  • Em caso de discente, comunicar à coordenação do Curso para avaliar formas de minimizar prejuízo acadêmico; em caso de servidor, comunicar à Direção do ICBS; seja discente ou servidor, comunicar à esta Comissão (CIB-ICBS; covid@icbs.ufal.br)

Referências bibliográficas:

 

  1. ADLER, H.; GOULD, S.; HINE, P.; SNELL, L.B.; WONG, W. (2022) Clinical features and management of human monkeypox: a retrospective observational study in the UK. The Lancet, v. 22 n. 8 pp. 1153-1162. DOI: https://doi.org/10.1016/S1473-3099(22)00228-6. Disponível em: Acesse aqui.
  2. BRASIL (2022). Ministério da Saúde. NOTA TÉCNICA Nº 46/2022-CGPAM/DSMI/SAPS/MS. Disponível em: Acesse aqui
  3. CDC. (2022) Monkeypox Signs and Symptoms. Disponível em: https://www.cdc.gov/poxvirus/monkeypox/index.html
  4. ALAGOAS. Secretaria de Estado de Saúde. (2022) Boletim epidemiológico Monkeypox - Saúde Alagoas, 2022. Disponível em: https://www.saude.al.gov.br/boletim-epidemiologico-monkeypox/
  5. MATO GROSSO DO SUL, Secretaria de Estado de Saúde. (2022) Comunicação de Risco Monkeypox. Disponível em: https://www.vs.saude.ms.gov.br/wp-content/uploads/2022/05/COMUNICACAO-DE-RISCO-6-MONKEYPOX_-Atualizada-31.05.2022.pdf
  6. SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL. Notícias. Varíola dos macacos: OMS acende sinal de alerta (2022). Disponível em: https://www.sbmt.org.br/portal/variola-dos-macacos-oms-acendo-sinal-de-alerta/
  7. THORNHILL, J.P. et al. Monkeypox Virus Infection in Humans across 16 Countries — April–June 2022. The New England Journal of Medicine, v. 387 n. 8 pp. 679-691. DOI: 10.1056/NEJMoa2207323. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/pdf/10.1056/NEJMoa2207323?articleTools=true